quarta-feira, 20 de abril de 2011

She got the sunshine*

   Descalça e com uma camisa de ganga clara por si, punhos dobrados até meio braço, apanha os longos e encaracolados cabelos loiros, num gesto demorado, com um lápis a carvão.
   Corre delicadamente a porta de vidro que a faz chegar ao íntimo que é seu.
   Sente agora nos pés em nu aquela passadeira de madeira desgastada pelo quente sol e pela brisa de um mar ao perto, sente nos pés mil grãos de rocha mastigada pelo tempo.
   Lá ao longe, o romper das ondas no decalque da rocha, faz chegar até si o ar do sal.
   Passo a passo segue em direcção àquele banco de praia que lhe possibilita a sua melhor visão. O claro do céu brota devagarinho mas o sol ainda não se fez mostrar, então aguarda despertando o corpo com um esticar de braços. Senta-se nesse banco também ele de madeira, sobe os joelhos até si entrelaçando-os num aperto ténue, fecha os olhos e sente a brisa matutina percorrer cada poro do seu corpo.
   Ainda de olhos fechados esboça um sorriso, experimenta o nascer do sol para si. Não só para si, mas especialmente para si.
   Abre os olhos pequeninos e no distante horizonte descobre-o a surgir de mansinho.
um misto de tudo corre por entre aquilo que ela é, são tantas as memorias que lhe passam no entanto não consegue fazer parar nenhuma e de seguida um momento em que tudo se esgueira, tudo fica branco, por si passam apenas os sentidos.
   Chega-lhe um abraço de coração quente, um abraço que lhe provoca um arrepio um abraço que mais ninguém lho pode dar.
   É aquele momento em que nada mais existe para além do seu intelecto, não há nada mais que o silêncio que a brisa carrega. É ela, só ela e aquele espaço, aquela imagem, aquele instante.
   Sorri apenas porque sente o calor invadir-lhe o corpo celeste de brilho. Sorri porque apenas ouve o silêncio. Sorri porque lhe chega á boca o sabor de um ar salgado. Sorri porque saboreia o cheiro da maresia desperta. Sorri porque pode ver o nascer do sol que é seu e de tantos, mas mais seu.
   Á luz mediana de um sol que nasce, sorri porque é ela e ela será até que o dia acabe.





1 comentário:

  1. É uma das minhas músicas favoritas de Ben Harper :)!
    Gosto do que escreves, não tenho tanto jeito como tu, mas se quiseres visita-me http://invisiblesheep.blogspot.com

    Felicidades :)

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