(Parte 2)
Tudo começa quando uma janela de sala, teria de ser necessariamente trocada. A janela era branca, o estore também. Branco é uma cor sobre a qual se pode dizer muito, o branco facilmente fica cinzento com o pó, fica manchado, fica feio, o branco deixa passar luz, o branco não isola o calor, o branco ofusca porque reflecte e etc.
Ao mudar-se uma janela existem determinados sons, ruídos, barulhos que de modo nenhum se podem travar. Barulhos esses que de modo algum incomodam (são momentâneos e literalmente rápidos) pois não são como os sons de o furar uma parede, nem de música aos berros, nem de martelar incessantemente, nem mesmo o barulho de patas de elefante com saltos altos que a minha vizinha de cima faz ao deslocar-se pela casa, garanto-vos que nem mesmo com chão isolado ela conseguiria deixar de fazer tanto barulho, mas enfim essa história conto-vos depois. Sons, ruídos, barulhos esses que por lei, num prédio, podem ser feitos, desde que o sejam no período considerado o período menos incomodativo para as pessoas que habitam no mesmo.
A janela foi posta ai pelo meio-dia na casa da minha vizinha da frente, Bela.
Maior não foi o seu espanto quando a vizinha (administradora adjunta) que mora no segundo andar na mesma direcção do apartamento da Bela, veio muito escandalizada a essa mesma hora (hora permitida por lei) reclamar que Bela estava a fazer muito barulho, que se estava a sentir muito incomodada, pois ainda estava a dormir.
Pessoa que não tem mais nada que faça da vida nitidamente. Como se não basta-se entra por casa de Bela, apontando-lhe o dedo e proferindo que não teria medo de Bela nem de nada que esta pudesse fazer. Vendo o seu espaço a ser invadido por pessoas terceiras que mal conhece, defende-se puxando mão atrás. Mal da outra, não fosse o marido de Bela a travá-la, a tempo, de lhe mandar com um murro na cara.
Situação resolvida, vizinha fora de casa. (Não estava claramente á espera de qualquer reacção deste tipo, saltou porta fora que foi um docinho para espectador ver.)
Voltando ás janelas, Bela optou por colocar uma janela o mais igual possível, ainda que basculante e de cor cinza. Um cinzento alumínio, um cinzento que eu, que já aqui moro há mais de um ano, ainda não o tinha notado. Esta cor ajuda a isolar o calor, não se mostra suja como o branco, nem ofusca mas parece que perturbou novamente a vizinha do segundo andar que muito rapidamente o foi "cuscar" com uma outra vizinha (sua amiga, já não sei de que andar) por sinal administradora do prédio, na altura.
Isto junta-se vizinha com vizinha ,administradora com adjunta e ora ai está pano para mangas.
Aparece em carta uma queixa contra Bela, carta redigida por parte da empresa responsável pelo prédio (evocada pela administração do mesmo), alegando que um dos condóminos não concordava com o colocar de estores nem janelas verdes no prédio. E aqui abro um parênteses á minha indignação, é feita uma queixa à empresa responsável pelo prédio, uma queixa que nem mereceu ser comprovada. Com base no que o queixoso diz vamos então escrever uma reclamação á pessoa que mudou a janela. E que tal comprovar se esta situação é realmente verdadeira? Que tal comprovar se a janela é realmente verde, amarela, ou até mesmo roxa. Pelos vistos não foi preciso a janela nem era cinzenta, segundo o queixoso a janela era verde.
A minha vizinha dirige-se á administradora a dizer que aquela carta não poderia ser para ela, nem contra ela, uma vez que os estores e a janela não eram verdes mas sim tons de cinza. Resposta da administradora “Verde ou cinzento é a mesma coisa”. Bem! Estamos perante um caso de daltonismo feminino chamem lá um cientista porque afinal as mulheres também são daltónicas e não são só os homens como se pensa. Por algum motivo foram dados nomes ás cores aos objectos e por ai fora, ou não?
Além da carta chegar ao apartamento de Bela chegou de igual modo uma cópia da mesma ao condomínio, comprovando que a empresa tinha comunicado a queixa ao proprietário da janela. Bela é chamada a reunião porque não pode colocar uma janela de cor diferente das cores originais da “traça do prédio”. (Atenção uma janela não pode ter cor diferente, porque altera a traça do prédio, mas colocar um contentor para ar condicionado já não é fazer nenhuma alteração. Então e se me der na cabeça acrescentar uma varanda exterior, ainda que dentro dos mesmos tons do prédio? Será que vai ser considerado uma alteração?).
(continua...)